A prática do “breast ironing” na África

breast-ironingHoje eu quero levantar uma questão muito importante. Neste começo de Terceiro Milênio,  a sociedade  e a civilização ocidental relegam a segundo plano explicações científicas – portanto, universais – sobre culturas diferentes das nossas, impossibilitando-nos de fazer qualquer julgamento sobre o que é certo ou errado. Apenas devemos respeitar culturas alheias, pois senão estaríamos impondo nossa “visão de mundo”. 

É por conta deste relativismo exacerbado que deveríamos fechar os olhos contra crimes e violações dos direitos humanos no resto do mundo, cometidos em nome da “cultura”. Geralmente, as mulheres são as grandes vítimas deste tipo de postura.  É muito conhecida a repressão contra a mulher nos países islâmicos, bem como a mutilação sexual de jovens africanas. Mas uma outra prática, menos conhecida, é o “breast ironing” que consiste em desestimular por meio de uso de pedras ou outros objetos em brasa, o desenvolvimento dos seios nas meninas. É este tipo de prática aceitável?

De acordo com estimativas da ONU, por volta de 3,8 milhões de meninas africanas estão sujeitas hoje a sofrer este tipo de ritual, que ocorre com mais incidência no oeste africano, especialmente em Camarões. 50 por cento das garotas nas cidades e 1/4 em todo o país tiveram os seus seios torturados por tal ritual, praticados em grande medida, pelas próprias mães, sob a justificativa de que estariam protegendo suas filhas da cobiça masculina, do estupro e do sexo antes do casamento, pois a deformação dos seios as tornariam menos atraentes. A prática consiste em pressionar contra os seios das jovens (muitas  com apenas 9 ou 10 anos de idade) objetos como pedras ou outros instrumentos aquecidos no fogo, para reverter o desenvolvimento natural dos seios na puberdade.

As consequências de prática tão primitiva (e aqui vai sim um julgamento de valor) é a dor, infecções, assimetria dos seios e muitas vezes a perda de uma ou das duas glândulas mamárias.

Fica difícil entender as razões de tamanha brutalidade, cometidas e defendidas pelas próprias mães das vítimas. Mas de acordo com a visão que impera hoje nos meios acadêmicos e midiáticos, devemos ter uma postura de respeito e de indiferença no que tange as culturas diferentes, pois criticar as diferenças nada mais é do que ver o mundo com as nossas lentes particulares. Eu defendo que cada cultura tenha a sua auto-determinação e liberdade, mas quando estamos falando de violações de direitos humanos, eu penso que não dá para ficarmos alheios. Para maiores detalhes, assista a uma reportagem sobre “breast ironing” (em inglês) abaixo.




Comentários

  1. Nossa, imagino a tristeza das meninas de lá :/
    Ótimo post.
    Sucesso com o blog.

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  2. Cara,
    Isso acaba dialogando com aquele post no Perspiciência. Por que as mulheres, em pleno Século XXI, ainda precisam passar por isso?
    E como as organizações mundiais que deveriam estar fiscalizando tal atrocidade consegue fechar os olhos e dormir tranquilamente sabendo de tais atos?
    Realmente tem certas nuances da índole humana que me fazem sentir vergonha.
    Abraço!

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  3. Putz velho, que horror! Nem sabia disso. Olha, concordo com o comentário do Sandro Ataliba aí acima, que as organizações mundiais deveriam SIM fiscalizar certos rituais. Isso não é cultura, é uma atrocidade.

    Gostei do blog e da informação que ele repassa.
    Parabéns!

    www.blogdaesfinge.blogspot.com

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  4. Olha concordo que é horrível e também sou contra violações dos direitos humanos, acho sim que deva a ver intenvenções nesses casos, mas como você é estudante de história, você deve saber o quanto o estupro de garotas é comum na África, certo?Se já sabia porque não considerou esse ponto?Não estou dizendo que o processo seja válido, mas que entendo o que as mães fazem, com a intenção de proteger as filhas, para elas, antes a filha passar por um processo doloroso feito por elas, do que sofrer com estupros mais tarde.
    Acho que você errou no texto ao não considerar este ponto, não mostrando o contexto geral e informando melhor aos leitores.

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  5. Olá Renata, seja bem vinda.

    Vamos aos pontos:
    Sim, existem muitos casos de estupro na África. E eu não tratei deste assunto especificamente, porque primeiro ele está implícito, já que eu cito em parte do texto que ele é uma das razões principais do "breast ironing, neste trecho em que eu digo: "...cometido pelas próprias mães, sob a justificativa de que estariam protegendo suas filhas da cobiça masculina, do estupro e do sexo antes do casamento". Além do mais o foco aqui é não é no estupro e sim na prática do "breast ironing". Outra coisa: independentemente de haver muitos casos de estupro na África, isto não justifica este ato bárbaro e insano, de estragar as mamas das jovens filhas para "protegê-las", são duas coisas diferentes. Pois então se existem muitos casos de pedofilia no Brasil (pra fazer uma comparação) devemos culpar nossos filhos pequenos, colocando-lhes cintos de castidade, em vez de culpar e punir os agressores? Essa é a lógica que você diz que compreende? Me desculpe, mas se você pensa assim, eu respeito a sua opinião, mas discordo totalmente.

    Grande abraço e obrigado pela participação.

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