O Brasil não é a CBF

copa-america-argentina-2011 Começou mais uma Copa América, evento de seleções de futebol que este ano tem sede na Argentina. Daqui a pouco, às 16 horas, a seleção do Ricardo Teixeira vai entrar em campo, na estréia contra a Venezuela. Mais uma vez, como sempre, não vou torcer para esta seleção. Por quê?

teixeira_ricardo Por uma série de razões. Em primeiro lugar, pelo que a seleção brasileira de futebol se tornou nestas últimas décadas. Deixou de ser um símbolo do melhor futebol do mundo para se tornar um empreendimento particular, presidido pelo corrupto e incompetente Ricardo Teixeira (imagem ao lado). Contratos milionários com fornecedores e patrocinadores fazem a entidade lucrar somas estratosféricas todos os anos, e os clubes, aqueles que gastam na formação dos futuros atletas, não veem a cor do dinheiro.

Em segundo lugar, pela falta de identificação com a seleção. Desde que os atletas passaram a emigrar em massa para o futebol de outros centros, perderam a ligação com os seus clubes de origem e com os torcedores. O grande barato de ver os jogos da seleção era se orgulhar de ter o craque do seu time vestindo aquela camisa amarela. Mas hoje, pelo contrário, dá receio, porque se ele é convocado pra jogar na seleção, você sabe que está mesmo é sendo colocado na vitrine para que seu empresário possa lucrar com a sua venda, enquanto você e seu time ficam chupando dedo.
Além disso, por conta dos contratos, a base de jogos da seleção de futebol tornou-se a Inglaterra. Lá o Brasil atua em quase 100 por cento dos amistosos caça-níqueis que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) arruma, desfalcando os times a troco de nada (leia-se: a troco de milhões de dólares).
patriadechuteiras
Em terceiro lugar, porque não admito esta propaganda midiática que pretende associar a seleção de futebol com a nação, à base de slogans como “Pátria de chuteiras”. Dessa forma, a população brasileira é induzida a esquecer os verdadeiros problemas do dia-a-dia, em troca da emoção da vitória de uma partida de futebol. E se você diz que não torce para a seleção, acusam-no de “antipatriota”, “do-contra”, “alienado” (sic) e outras baboseiras. Além do mais, tem essa rivalidade fabricada com os sul-americanos, especialmente com a Argentina, que acaba extrapolando do futebol e se tornando xenofobia. Recentemente uma amiga da blogosfera, Ana Cecília, chegou de viagem da Argentina, e desde então coloca fotos da sua estadia no país em seu blog de contos, HumorEmConto. Ela pode nos atestar com propriedade o quanto a Argentina é um país maravilhoso - com todos os problemas que um país sul-americano pode ter, é verdade. Seu povo é ligado em cultura, é politizado e apaixonado pelo país, não somente pela seleção. Deveríamos aprender com os argentinos, e deixar as rivalidades para o campo das provocações e bricadeiras.
Não é que eu torça contra o Brasil. Muito pelo contrário. A CBF não é o Brasil. Eu quero muito que o Brasil seja campeão. Mas que seja campeão no acesso à Saúde Pública de qualidade; campeão na erradicação da miséria e do analfabetismo; campeão em bem-estar e respeito ao cidadão; campeão em civilidade, em emprego e renda. E se der tempo, que seja campeão de futebol também.




Comentários

  1. Concordo plenamente com relação à máfia que infelizmente se instalou no nosso futebol, e em como quase tudo virou negócio, e não orgulho ou disputa. No entanto, não vejo muita diferença no resto do mundo, com o futebol milionário da Europa que importa todos os bons jogadores (do mundo inteiro) e em outros esportes também, como podemos ver a greve em busca de maiores lucros por parte do Futebol Americano, e ano que vem a promessa de greve pra NBA também... é triste, e não é uma realidade só do esporte no nosso país. Não acredito no radicalismo tendendo para lado algum, então continuo torcendo para o Brasil, para a seleção. Contudo, tenho minhas ressalvas, e não bato no peito de orgulho pelo futebol arte, que há muito foi deixado de lado. Mas me emociono e torço para alguns jogadores que estão na seleção e sentem esta fibra, como o goleiro Júlio César, Daniel Alves, Lúcio, Thiago... ainda temos alguns a apreciar. Quanto ao comentário em relação à rivalidade com os argentinos, discordo quase que totalmente dos comentários. Não dá para ter uma avaliação precisa a partir de uma visita de turismo. Tenho também vários amigos (inclusive argentinos) que já passaram por aqui e têm a mesma ideia maravilhosa do Brasil... que o Rio de Janeiro é lindo, é charmoso, é politizado, que é rico, educado... mas são pessoas que viveram dias e tempos "surreais" em sua estadia. Já trabalhei bastante tempo numa empresa argentina de turismo e posso afirmar que a rivalidade deles conosco é muito maior do que a nossa com eles por causa do futebol. Aliás, eles são muito mais fanáticos por futebol do que os brasileiros, mesmo os executivos de mais alto nível. Ainda somos frequentemente chamados de "los macaquitos" a cada jogo de um time brasileiro com um time argentino por todos os jornais, e mesmo sendo mulher cansei de receber hostilidade no trabalho em época de copa do mundo por exemplo, por causa de futebol. Também acho uma bobagem sem tamanho esta rivalidade, porém não é unilateral, e é muito mais forte do outro lado. Como boa samaritana, acredito que um dia isto vai acabar, e que todos serão pessoas inteligentes o suficiente para saber que caráter e personalidade não se julga pela nacionalidade, mas por tantos outros fatores que nem daria para relacionar neste comentário já enorme...rs Ótimo assunto para abordar! ;) Beijos

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  2. Oi Thaís,

    Antes de tudo, obrigado pela participação.

    Eu sou obrigado a reconhecer que existe sim, uma parcela de argentinos que não gosta do Brasil, e outra que gosta, mas só vê o lado bom do nosso país, você tem realmente razão. Foi bom também ter trazido a sua experiência pessoal pra ilustrar a situação. Também espero que um dia essas rivalidades acabem, pois temos muito mais a ganhar se juntarmos forças do que se nos separarmos.

    Grande beijo e um ótimo fim de semana. ;)

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  3. Uma ótima semana, melhor dizendo. rsrs

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  4. Oi Almir, meu amigo, tudo bem?
    Estava com dificuldade de vir por aqui, falta de tempo (coisa do mundo capitalista? ... pode ser!).
    Concordo 100% contigo. Somos a "Pátria de chuteiras"! Mas somos sim! Uma Pátria que leva todos os dias chutes de chuteiras, e outros calçados, geralmente os sociais dos "grande políticos". Chutes na educação, na saúde, na alimentação, na descência! Levamos chutes todos os dias. Colocam de escanteio à cultura (diferente de nossa hermana latina), e dão balão, drible da vaca, e até embaixadinhas, quando vemos um cara como o Palloci, simplesmente sumir, numa boa!
    Apenas não consigo não torcer se vejo o Brasil, mas fico eternamente balaçanda quando vejo a Celeste Uruguaya jogar, meu segundo país. Aliás, um país onde o índice de analfabetos é praticamente zero!
    Grande beijo amigo! Obrigada pela referência!

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  5. Amigo, vim até o seu blogue por indicação do blogue Humor em Conto; adorei!
    Seu texto é super sagaz. E, respeitando as diferenças, concordo em basicamente tudo que argumentou.

    Um grande abraço.

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