Como as mídias influenciam nossas opiniões e interferem na democracia

Todos nós estamos muito acostumados a culpar a falta de interesse do povo na política como causa principal de todos os nossos problemas. De fato, o brasileiro médio é passivo, alienado e alheio qualquer tipo de participação e envolvimento com a política. Mas até que ponto ele é o vilão da história? Será que ele não é vítima de um sistema que subverte o papel dos meios de comunicação, que molda a sua forma de ver o mundo?

Muitas pessoas têm a tendência de acreditar que as mídias apresentam os fatos de forma neutra, imparcial, sem nenhum interesse no que é veiculado. Essa crença é o primeiro passo rumo a uma perda de autonomia crítica frente ao mundo. Delegamos a terceiros a tarefa de pensar por nós sobre o que queremos.

As mídias estão completamente inseridas no jogo comercial do mercado. Sua função básica há muito tempo deixou de ser a informação e passou a ser o controle da opinião pública, para domesticar nossa visão de mundo, criando o consenso e o consumidor dos produtos que são anunciados em suas páginas ou em sua programação. E os anunciantes, aqueles que bancam de 70 a 90 por cento da receita de um jornal, de uma TV ou de uma revista, se não chegam a determinar diretamente o que será veiculado na programação, influenciam a decisão, ao colocar ou retirar patrocínio em determinada linha jornalística, de acordo com seus interesses mercadológicos.

Moldar a opinião pública norte-americana, o começo dessa tendência

É obvio que, para que essa tática funcionasse, era preciso transformar a própria ideia que as pessoas tinham sobre democracia. O cidadão deveria deixar de se interessar em participar das decisões sobre todos os assuntos que lhe dizem respeito, desde em quem votar até o que comprar, deixando tudo a cargo de especialistas em relações públicas.

Foi nos Estados Unidos, durante a Primeira Guerra Mundial, que nasceu essa subversão do cidadão atuante em consumidor passivo. Durante o conflito armado, foi criada a Commission on Public Information [1] — ou Commission Creel — para convencer a opinião pública americana, tradicionalmente isolacionista com relação aos problemas europeus, de que era importante os Estados Unidos entrarem na guerra. Através de uma série de métodos apelativos de patriotismo, emoção, amor à “liberdade”, ideia de predestinação, eles conseguiram.

Walter Lippmann [2], jornalista e membro da comissão, externou os objetivos do grupo, e é importante que saibamos reconhecer suas intenções, porque esse modelo foi posteriormente adotado em diversos países do mundo — e continua sendo até hoje. Segundo ele, essa comissão era uma “revolução na prática democrática”, em que “uma minoria inteligente” é encarregada de “fabricar cientificamente o consentimento do povo”, o que formaria uma população com uma opinião pública “saudável”, cujo papel seria a de “expectador” e não de participante nas decisões.

Já conhecemos aqui no Panorâmica Social um dos principais mentores dessa manipulação: o sobrinho de S. Freud, Edward Bernays, um dos maiores aliados das grandes corporações na função de criar psicologicamente o consenso e o desejo de consumo. Nos anos 50 ele ajudou a criar o mito, através de falsa propaganda, do perigo comunista na Guatemala, em favor dos interesses da corporação norte-americana United Fruits. O resultado foi o golpe de Estado com o apoio da CIA em 1954, que derrubou o governo democraticamente eleito do país.

Dez anos mais tarde, o mesmo método, a mesma mentira, a mesma propaganda, a mesma CIA ajudaram a derrubar outro governo democrático latino-americano: o de João Goulart no Brasil. Um ano mais tarde, em 1965, com apoio e investimento da empresa norte-americana Time-Life, nascia a Rede Globo de Televisão. Coincidência?

Vamos ver no próximo post como a mídia controla desde então a opinião pública no Brasil.

Próximo post: Como as mídias controlam a opinião pública no Brasil

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[1] BAILLARGEON, Normand. Pensamento Crítico. Um curso completo de autodefesa intelectual. Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2007
[2] Idem





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