Superação do capitalismo: uma certeza, muitas dúvidas

 Nós somos 99 por cento
 
Fechando as postagens que pretenderam mostrar até aqui como começou e para onde está indo o atual movimento mundial de contestação ao capitalismo, chegou a hora de ver as características das reivindicações, suas formas de atuação, suas conquistas e seus rumos daqui por diante.
 
Uma certeza que marca os protestos dos diversos movimentos sociais pelo mundo: o capitalismo e o mercado fracassaram rotundamente em suas promessas de gerar riquezas e prosperidade para todos. As dúvidas: qual das dezenas e dezenas de propostas é ideal para superar este modelo? Existe alguma? Deveria haver uma conjunção de propostas? O que manter? O que descartar? Infelizmente, parece que as pessoas que contestam o sistema andam falhando em deixar claras essas respostas.
 
Conforme foi mostrado na segunda postagem sobre a série, a grande maioria desses novos movimentos, fragmentários e diversificados, teve inspiração no movimento zapatista, cuja figura mais destacada é a do subcomandante Marcos, chamado de “Che Guevara pós-moderno” (como se isso fosse um elogio...). Os zapatistas, conforme deixaram claro no encontro internacional promovido em Chiapas em 1996, se recusaram a propor soluções globais ou modelos para a crise global. Eles propõem soluções locais, e cada local teria suas próprias e especificas demandas. A deles, por exemplo, é autonomia política.
 

O Culture Jamming

 

coca-cola A Coca-Cola ama (“o lucro”)

 
Por se inspirarem em tal exemplo, os atuais movimentos sociais se recusam a admitir quaisquer ideologias como forma de confrontar o capitalismo; seus líderes recusam o papel de líder, como vemos nos atuais protestos na Espanha e em Nova Iorque, e cada qual aponta soluções diversas para a superação do atual modelo político-econômico. Vejamos alguns exemplos, de forma bem resumida:
 
· Nos Estados Unidos, o irreverente “pastor” Billy (na verdade, o ator Bill Talen) fundou a Church of Stop Shopping (Igreja Pare de Comprar), que critica o consumismo absurdo da sociedade norte-americana, indo nas lojas Starbucks “pregar” contra as grandes corporações.
· O California Department of Corrections é uma coalizão secreta de sabotadores da publicidade, dedicada a “corrigir” os anúncios de propaganda. Com tinta, spray, papel, etc. eles “retrabalham” os outdoors, revelando a verdade por trás de slogans que te induzem a comprar. (clique nesse link para ver algumas de suas “correções”) 
· Uma rede global anticapitalista chamada Fanclubbers tem uma tática que consiste em comprar produtos de grandes marcas — especialmente em locais cheios — e logo em seguida devolvê-los, com uma mensagem. Em Londres, dezenas de militantes do Fanclubbers compareceram em uma loja da Nike, compraram lotes de camisas da marca e logo em seguida devolveram, para o espanto dos demais consumidores e dos vendedores. A alegação era que todas as camisas vieram com marcas de sujeira — as marcas eram o logo da Nike...
· O Biotic Baking Brigade (BBB) é um movimento californiano voltado para a justiça social, os direitos da mulher, da natureza e dos animais. Sua forma de protesto é esfregar, em atos públicos, tortas de coco orgânico no rosto de políticos, economistas e celebridades que consideram inimigos.
 
Tais movimentos são criativos e interessantes, podendo apresentar resultados imediatos, mas e a longo prazo?
 
Não sei até onde vai esse movimento internacional de contestação ao capitalismo. O sistema tem o poder de absorver e domesticar todos os movimentos de contestação desse tipo, tornando-os parte do próprio sistema. A GAP, um dos alvos favoritos dos ativistas, chegou a exibir bandeiras vermelhas e falsas pichações em suas vitrines como forma de publicidade. O símbolo da Anarquia, as camisetas de Che Guevara e os moicanos são exemplos claros disso.
 
Ao descartarem todas as ideologias e as lideranças como algo ultrapassado, eles fazem um favor ao capitalismo. Combater a ideologia capitalista-liberal-burguesa sem um quadro determinado de reivindicações de superação do próprio capitalismo, e sim com uma miríade de pequenas reformas e protestos inusitados, me parece uma medida bastante superficial e totalmente inócua. Qual o problema dos líderes? Liderança não tem que ser uma imposição de cima para baixo, mas um posto conquistado de baixo para cima. Seguir uma liderança conscientemente, seguir uma grande ideia, não é submeter-se passivamente, é fortalecer ideais e centralizar ações num objetivo claro. Do jeito que está, o capitalismo agradece.

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