“Mensalão” do PT: relembrando o caso (parte 3/3)

Essa postagem é a terceira e última parte da matéria sobre o Mensalão do PT, que começou a ser julgado hoje.

Voltando a Roberto Jefferson

roberto-jefferson Dos 20 milhões de reais prometidos pelo PT em troca de “aliança política”, o PTB de Jefferson recebera “apenas” 4 milhões. O ex-deputado petebista estava perdendo a paciência.
Roberto Jefferson foi procurado por um dos arapongas de Artur Wascheck, que relatou ao então deputado a existência do vídeo que mostrava Mauricio Marinho recebendo propina e denunciando o esquema de corrupção nos Correios. Jefferson sentiu que ali tinha o dedo do governo para tentar calá-lo. Logo depois, a revista Veja publica uma matéria sobre o esquema de corrupção nos Correios supostamente comandado pelo PTB e gerenciado por Jefferson. O vídeo chegou às mãos do repórter Policarpo Júnior — o mesmo que hoje é suspeito de envolvimento com Carlinhos Cachoeira.
Sentindo-se abandonado e jogado aos leões, Roberto Jefferson resolveu falar. Em 6 de junho de 2005, o então deputado dá uma entrevista à Folha de São Paulo e revela o esquema do chamado mensalão do PT. Seis dias depois, outra entrevista no mesmo veículo, com mais detalhes do esquema. Nessa segunda entrevista, surge o nome de Marcos Valério, até então uma figura anônima no cenário nacional.

Mais dinheiro para evitar a CPI

Os partidos de oposição e a mídia se eriçaram com a oportunidade de atacar o governo. Para evitar a criação de uma CPI, primeiro o PT e seus aliados cheios de dinheiro do mensalão tentaram desqualificar o acusador. Não colou. As acusações eram bastante concretas.
Restou ao governo apelar para o velho plano B, ou seja, abrir o cofre. Segundo Figueiredo, para evitar que um terço dos senadores e deputados assinasse a criação da CPI, “o Planalto despejou 400 milhões de reais no Congresso, na forma de emendas parlamentares”. Não adiantou.

No dia 9 de junho de 2005, a CPI dos Correios deu início aos seus trabalhos

cpi-dos-correios Apesar de ter sido transformada em show, passando ao vivo nas TVs, a CPI não foi tão longe quanto deveria. Apesar de ter criado o valerioduto e de ter se servido dele de 1998 a 2004, o PSDB passou ileso. Apesar de haver dezenas de razões para colocar o então governador de Minas, o tucano Aécio Neves, sentado no banco dos réus, a CPI nunca o fez. Deixaram passar a oportunidade de perguntar ao tucano mineiro por que seu governo tinha tantos laços financeiros com Marcos Valério.
Na verdade, essa omissão é explicada como fruto de mais um dos acordos subterrâneos entre o governo e a oposição: a comissão deixaria de investigar a conexão tucana de Minas com o valerioduto e, em troca, não levou a fundo as investigações sobre o esquema milionário de caixa dois e propinas do PT. Há muito tempo eu já dizia que PT e PSDB eram farinha do mesmo saco.
Dessa maneira, por mais que produzisse boas manchetes, a CPI não conseguiu responder dúvidas que assolavam o país: de onde vieram os 55 milhões de reais movimentados pelo PT no valerioduto, e quem foram os beneficiados com esse dinheiro?
Se fosse a fundo, a CPI poderia revelar uma lista de corruptos brasileiros que certamente passaria dos cem. Em vez disso, a Comissão Parlamentar de Inquérito ofereceu à opinião pública apenas 38 nomes. Mesmo assim, figuram ali nomes importantes como o próprio Roberto Jefferson, José Dirceu, José Genoíno, Bispo Rodrigues, Duda Mendonça, Marcos Valério, entre outros. Pela primeira vez na história desse país, pessoas investigadas por uma CPI podem ir presas. Não pretendo que se faça um linchamento público das pessoas envolvidas no julgamento que começou hoje no Supremo. Desejo apenas que o STF cumpra seu papel e puna quem merecer, pois a sociedade não aguenta mais tanta impunidade nesse país. Agosto promete grandes expectativas.
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Fonte: FIGUEIREDO, Lucas. O Operador – Como (e a mando de quem) Marcos Valério irrigou os cofres do PSDB e do PT. Ed. Record: Rio de Janeiro, 2006.
“Mensalão” do PT: relembrando o caso (parte1/3)
“Mensalão” do PT: relembrando o caso (parte2/3)




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